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Tarifas de Trump: como o agronegócio avalia decisão do presidente dos Estados Unidos


GLOBO RURAL – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comunicou a decisão de taxar em 50% as importações de produtos do Brasil. A decisão atinge segmentos importantes do agronegócio, que têm no mercado americano um importante cliente. Suco de laranja, carnes, açúcar, café e produtos florestais são os principais itens da pauta setorial. Saiba como representantes de diversos segmentos do agro brasileiro estão se manifestando sobre a medida.

Suco de laranja

Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), diz que foi pego de surpresa. “Vamos analisar os impactos, mas é péssimo para o setor como um todo. Entendemos que essa medida afeta não apenas o Brasil, mas toda a indústria de suco dos Estados Unidos que emprega milhares de pessoas e tem o Brasil como principal fornecedor externo há décadas”, afirma.

Café

O diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, observou que o Brasil é o principal fornecedor de café para os EUA, respondendo por cerca de 30% das importações americanas. “O Cecafé acompanha com muita atenção as discussões das tarifas dos Estados Unidos. É o país mais importante em termos de consumo de café”, disse.

Carnes

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) afirmou, em nota, que representa um “entrave ao comércio internacional e impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina”. Reforçou a importância de que “questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar, especialmente em um cenário que exige cooperação e estabilidade entre os países”.

Em comunicado, a Minerva Foods, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, estimou nesta quinta-feira (10/7), que a tarifa tem potencial impacto de, no máximo, 5% para sua receita líquida, conforme comunicado ao mercado. Além das operações brasileiras, a Minerva também acessa o mercado americano por meio das unidades da empresa na Argentina, Paraguai, Uruguai e Austrália.

O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Oswaldo Pereira Ribeiro Junior, afirmou, em nota, que a taxação colocaria o preço da tonelada de carne exportada pelo Brasil em cerca de US$ 8.600, “inviabilizando qualquer comercialização para o mercado americano.” Ele ressaltou que tem enorme preocupação com a medida, pois a tarifa retira o produto brasileiro da concorrência para esse mercado tão importante para o setor de carne bovina, como os EUA.

Açúcar

A indústria de açúcar do Nordeste do Brasil exporta o produto para os Estados Unidos em cotas. Para o setor, a tarifa pode inviabilizar exportações e gerar desemprego. “Pode inviabilizar essa cota. Temos que absorver o primeiro impacto, fazer as contas, mas é um ataque desestruturador para essas exportações do Nordeste”, afirma Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) e da Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio).

Entidades, parlamentares e analistas

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) afirmou que o anúncio da aplicação de tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros é um “alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas” entre os dois países. Em nota, a bancada ruralista manifestou preocupação com a decisão do presidente norte-americano, Donald Trump. “A nova alíquota produz reflexos diretos e atingem o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”, diz a nota.

Ministra da Agricultura no governo de Jair Bolsonaro, a senadora Tereza Cristina pregou cautela e destacou que ambos os países têm mecanismos legais para negociar. “As nossas instituições precisam ter calma e equilíbrio nesta hora. A nossa diplomacia deve cuidar dos altos interesses do Estado brasileiro. Brasil e Estados Unidos têm longa parceria e seus povos não devem ser penalizados.

O presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Sérgio Bortolozzo, afirma, em nota, que a decisão deixa o setor apreensivo e demanda atenção imediata do governo brasileiro. “Não é bom para o Brasil, nem para os Estados Unidos. Temos uma posição confortável, já que somos o principal fornecedor de café e carne bovina para o país, mas será necessário um acordo muito bem coordenado para reverter isso”, diz ele, acrescentando confiar na atuação da diplomacia do Brasil.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu uma resposta com base na Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada e sancionada em abril quando Trump incluiu o Brasil em uma primeira lista de tarifaço. Para o ex-secretário de Comércio Exterior e sócio-fundador da consultoria BMJ, Welber Barral, aplicar a lei seria a única forma de o Brasil “incomodar” o governo americano. Mas é “improvável” que o governo Lula dê esse tipo de resposta.

Carlos Cogo, consultor especializado em agronegócio, considera, assim como outros especialistas, que o gesto de Trump ao impor novas tarifas ao Brasil foi um gesto político, não comercial. “A medida ocorre em meio a tensões diplomáticas crescentes, incluindo críticas de Trump à atuação da Justiça brasileira contra Jair Bolsonaro, que ele considera alvo de perseguição, e à decisão do STF que responsabiliza plataformas digitais por conteúdos criminosos”, escreveu em relatório.

Foto: Donald Trump, presidente dos Estados Unidos — Crédito: White House Photo/Molly Riley

Reportagem de Rafael Walendorff, Fernanda Pressinott, Gabriella Weiss, Nayara Figueiredo, Caetano Tonet e Gabriela Guido

Fonte: Globo Rural

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