NOVABIO

História da Cana

A CANA NO BRASIL

Usina Serra Grande em gravura de Percy Lau publicada no Diário de Pernambuco de 1933

A trajetória da cana-de-açúcar, iniciada imediatamente após o Descobrimento, está intimamente ligada ao desenvolvimento socioeconômico e ambiental do Brasil. Hoje líder global na produção e exportação açucareira, o País também é reconhecido como segundo fabricante mundial de etanol, além de ser referência na geração de energia elétrica por meio da biomassa.

Nacionalmente, o setor sucroenergético é composto por 360 usinas e 70 mil fornecedores de cana independentes. Junto a outros elos da cadeia produtiva, movimenta um PIB próximo de US$ 40 bilhões e gera, aproximadamente, dois milhões de empregos diretos e indiretos em cerca de 1.200 municípios brasileiros.

No Norte e Nordeste, a estrutura produtiva da agroindústria canavieira é formada por XX usinas e mais de 22 mil produtores independentes, que na safra 2022/23 geraram 280 mil empregos diretos nas duas regiões, fabricando mais de 58 milhões de toneladas de cana, das quais foram extraídos 3,2 milhões de toneladas de açúcar, 2,3 bilhões de litros de etanol e XXXX TWh de bioletricidade gerada a partir da queima do bagaço e da palha da cana.

No início do século XVI chegava ao porto de Lisboa a primeira remessa de açúcar brasileiro, produto vindo do Nordeste que, em breve, teria seu valor comparado ao ouro e seduziria paladares por toda a Europa. Desde então, modernizando seus processos produtivos, essa indústria alcançou um grau de consolidação poucas vezes atingido por outros setores.

Usina Leão em 1921

A historiografia brasileira registra que a cana foi introduzida no Brasil pelo então militar e administrador português Martin Afonso de Souza, na capitania de São Vicente, em São Paulo. Mas foi no Nordeste brasileiro que o cultivo inicialmente ganhou força. Na Zona da Mata de Pernambuco, a cultura canavieira atravessou cinco séculos registrando notáveis transformações tecnológicas.

Evoluindo dos engenhos tradicionalmente movidos a tração animal e vapor d´água, a indústria modernizou-se a partir do final século XIX com o surgimento das primeiras unidades industriais, que revolucionaram a produção e o comércio do açúcar no Brasil. 

Segundo o escritor e historiador Manoel Correa de Andrade, autor da obra “História das Usinas de Açúcar de Pernambuco”, em 1871, graças ao avanço tecnológico passou-se a fabricar, além do açúcar mascavo, o açúcar cristal.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) e do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostram que na safra 2022/2023 o Brasil exportou um volume correspondente a aproximadamente 40% do comércio mundial de açúcar para mais de 40 países, localizados na Ásia, Oriente Médio, África, Europa, América do Norte e do Sul.

Etanol

Unidade de fabricação de Usga na Usina Serra Grande

Corria o ano de 1925 quando os canaviais brasileiros, além do açúcar, passaram a produzir etanol, após experiências bem-sucedidas na Europa e nos EUA. Inspirando-se no conhecimento e em tecnologias desenvolvidas na Alemanha, a usina Serra Grande, associada da NovaBio no município de São José da Laje, em Alagoas, foi a primeira empresa sucroenergética a pesquisar a fabricação do biocombustível composto de álcool etílico, éter etílico e óleo de mamona. Com a marca USGA – iniciais da Usina Serra Grande de Alagoas – o produto passou a ser comercializado em bombas de abastecimento abertas no Recife (Praça da Independência) e em Maceió (Casa Americana) em 1927.

O Cachacinha, movido a etanol em 1925

O novo biocombustível iniciava uma jornada de sucesso no Brasil, sobretudo por vantagens econômicas, visto que era vendido por 500 réis o litro, enquanto a gasolina importada custava 900 réis. Em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York durante a Grande Depressão, o produto tornou-se ainda mais competitivo, sendo vendido por 400 réis face aos mil réis cobrados por litro do concorrente de origem fóssil. Em 1933 nascia o Instituto do Açúcar e do Álcool com o objetivo de fomentar e controlar a fabricação de açúcar, álcool e outros derivados da cana no País. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o etanol foi amplamente utilizado como alternativa para suprir a escassez de gasolina no mercado nacional.

Senna como garoto propaganda do sedã Corcel II com motor a etanol na década de 1980

A partir de 1975, a cana-de-açúcar inaugurou um capítulo importante na produção de bioenergia no Brasil. Surgia o Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), criado pelo governo federal para atenuar os efeitos da crise internacional do petróleo, que elevara o preço do barril do óleo, desequilibrando a economia global. De forma emergencial, e que se pode chamar de futurista, nascia o maior programa de produção e utilização bem-sucedida de um biocombustível renovável no mundo. Esta inovação impulsionou a produção e uso do etanol misturado à gasolina por meio da instalação de destilarias anexas às usinas de açúcar.

Entre 1979 e 1990, surgiram os carros movidos exclusivamente a etanol no Brasil. Neste período, a produção canavieira mais que dobrou: de 108 milhões de toneladas saltou para 223 milhões de toneladas. 

A fabricação de etanol anidro e hidratado avançou 3,3 bilhões de litros para 11,65 bilhões de litros.

Transição energética

No início do século XXI, a produção sucroenergética diversificou-se ainda mais. Em função do “apagão” elétrico ocorrido em 2001, abriu-se espaço na matriz elétrica nacional para o maior uso da bioeletricidade gerada a partir do bagaço e da palha da cana. Some-se a isto a chegada da tecnologia flex-fuel ao País, em 2003. Neste último caso, em especial, a indústria canavieira vem integrando-se cada vez mais rumo à mobilidade sustentável.

Nos últimos 20 anos, o consumo de etanol hidratado pelos automóveis flex, considerando-se também a mistura obrigatória de 27% do biocombustível anidro a toda a gasolina comercializada no Brasil, reduziu a emissão de gases do efeito estufa (GEEs) em mais de 590 milhões de toneladas de CO2 e equivalentes. Esta quantidade iguala-se à soma das emissões totais da Coréia do Sul ou à mitigação de CO2 estocada em 4 bilhões de árvores nativas por duas décadas. Hoje, o sistema flex está presente em 90% dos carros leves e 60% das motos vendidas no País.

 

Graças a esta longa trajetória de sucesso, o etanol é hoje considerado por grandes marcas globais da indústria automotiva como o principal diferencial para tornar os carros elétricos ainda mais sustentáveis. Prático para o consumidor e com ampla infraestrutura de abastecimento em todo o País, o biocombustível está nos planos de grandes marcas globais. Toyota, Volkswagen, Caoa Chery, Nissan e o grupo Stellantis (Fiat, Jeep, Peugeot, Citroen e Ram) vem apostando alto na combinação do biocombustível com a eletrificação. Isto, seja por meio dos carros híbridos flex (HEV) ou na utilização do etanol, rico em hidrogênio, para abastecer uma célula de combustível e acionar o motor elétrico. Além do segmento veicular, o etanol também é adotado em aeronaves agrícolas, especialmente no modelo Ipanema, produzido pela Embraer. Serve, igualmente, como insumo na produção cada vez maior de bioplásticos. As oportunidades de produção renovável parecem infindáveis no setor sucroenergético. A mais recente inovação é o biogás. Para chegar a este derivado, as usinas aproveitam a vinhaça, subproduto da fabricação de etanol. Juntamente com a bioeletricidade gerada do bagaço e da palha da cana, esta nova fonte é estratégica para a segurança energética nacional. Pode ser gerada durante os meses de moagem da cana-de-açúcar, coincidindo com o período mais seco do ano e economizando água nos reservatórios das hidroelétricas.