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Com seis painéis, Fórum Nordeste 2025 discute etanol, SAF, crédito e inovação


MOVIMENTO ECONÔMICO – O Fórum Nordeste 2025, realizado nesta segunda-feira (1º) no Mirante do Paço, no Recife, consolidou-se como espaço estratégico para articulação entre agentes públicos e privados em torno da transição energética. A programação, transmitida ao vivo pela Folha de Pernambuco, reuniu nomes do setor produtivo, industrial, acadêmico e financeiro, com forte presença institucional. A agenda foi construída em conexão direta com os compromissos climáticos assumidos para a COP30, marcada para novembro, em Belém.

Com apoio do Governo de Pernambuco, Prefeitura do Recife, Sindaçúcar-PE, Sudene, Suape, Copergás, Neoenergia, NovaBio, FMC e Banco do Nordeste, o evento foi promovido pelo Grupo EQM, presidido por Eduardo de Queiroz Monteiro, com estrutura organizada em seis painéis temáticos.

Abertura institucional alinha região ao protagonismo da COP30

A cerimônia de abertura contou com mensagem em vídeo do embaixador André Aranha Corrêa do Lago, presidente designado da COP30, que afirmou: “A atuação do Nordeste em energias renováveis serve de referência nacional e pode contribuir diretamente para as metas brasileiras na COP30.”

No palco, estiveram a governadora Raquel Lyra, o prefeito do Recife, João Campos, o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto, o presidente do Grupo EQM, Eduardo de Queiroz Monteiro, e o presidente do Sindaçúcar-PE, Renato Cunha. As falas destacaram o papel do Nordeste como ponto de convergência entre produção de energia limpa, inovação industrial e inclusão territorial. A perspectiva é que a região atue não apenas como fornecedora de bioenergia, mas também como articuladora de políticas públicas integradas.

Motores pesados a etanol testam viabilidade industrial e logística no agronegócio

O painel “Motores Pesados 100% a Etanol – Uma nova rota tecnológica” discutiu uma das apostas mais diretas para descarbonizar o transporte de carga e a mecanização agrícola sem depender exclusivamente da eletrificação. O projeto, desenvolvido por pesquisadores da USP com financiamento da Fapesp, propõe converter motores ciclo diesel para uso integral de etanol.

Daniel Sofer, diretor da Datagro Ventures, afirmou: “O motor a etanol pesado é uma tecnologia tropical e limpa, capaz de reduzir quase a totalidade das emissões de CO₂, sem depender de eletrificação massiva.” Ele apresentou resultados de campo com tratores e caminhões, mostrando eficiência mecânica de até 40% com combustão exclusiva de etanol hidratado.

Participaram ainda Antônio Eduardo Tonanni, coordenador técnico da iniciativa na USP, e Everaldo Navarro, gerente da FMC. O painel tratou da escalabilidade da tecnologia e do potencial de absorção por cooperativas agrícolas, transportadoras e frotas públicas, com foco no uso regional em polos de produção sucroenergética do Nordeste.

BNB apresenta impactos diretos dos financiamentos em energia limpa

O painel seguinte abordou as condições operacionais e impactos do crédito climático concedido pelo Banco do Nordeste. O diretor de Negócios da instituição, Luiz Abel de Andrade Amorim, afirmou: “O BNB financiou projetos que evitaram 18,3 milhões de toneladas de CO₂ apenas em 2024. Temos um compromisso técnico e mensurável com a descarbonização da economia regional.”

Com foco no FNE Verde, o painel detalhou prazos, linhas com juros vinculados a desempenho ambiental e critérios de elegibilidade para projetos em geração solar, eólica, biomassa e bioinsumos. Marcus Vinicius de Oliveira, superintendente estadual do banco, destacou a criação de um portfólio de risco específico para projetos inovadores de menor porte, como biodigestores e microgeração rural.

Carlos Ernesto de Carvalho, diretor técnico da NovaBio, alertou para a necessidade de articulação entre o BNB e os fundos estaduais de desenvolvimento. O painel mostrou o papel central do banco na regionalização da transição energética, especialmente no semiárido.

Setor sucroenergético defende estabilidade tributária e aumento da previsibilidade regulatória
O painel “Quo Vadis: Rumos do setor sucroenergético do Brasil” reuniu representantes da cadeia da cana-de-açúcar com foco na competitividade e expansão industrial. O presidente da Datagro, Plinio Nastari, apresentou projeções de que a produção nacional de etanol deve ultrapassar 32 bilhões de litros em 2025, com avanço na participação do etanol hidratado.

“O setor sucroenergético não é só competitivo — é estratégico. O Nordeste pode liderar a expansão da produção de etanol com menor custo marginal e maior estabilidade de oferta”, afirmou. O painel destacou riscos fiscais com a reoneração da gasolina e os limites operacionais da política de subsídios cruzados.

Henrique Queiroz, presidente do IPA-PE, defendeu uma integração mais robusta entre pequenos produtores e usinas de etanol para estimular o adensamento produtivo regional. Participaram também Ricardo Pinto Barbosa, do Sindaçúcar-AL, e Humberto Diniz, da Cooperativa Pindorama, que defenderam o fortalecimento do RenovaBio com indicadores mais ajustados às realidades do Nordeste.

Biocombustíveis de aviação e navegação exigem regulação e política industrial

O painel “Transição energética: o papel do Brasil em um mundo em mudança” abordou o potencial dos biocombustíveis para aviação (SAF) e navegação (biobunker, e‑metanol e biometano). O debate foi conduzido por Ricardo Mussa, CEO da Raízen, com participação de representantes da Airbus, Copersucar, Cocal e UFPE.

A mediação foi feita por Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE, vice-presidente da FIEPE e da Bioenergia Brasil. “O setor privado quer ser protagonista da transição energética, mas isso depende de previsibilidade regulatória e articulação institucional com os estados e a União”, disse.

Marcos Antonio Cassemiro, superintendente de Sustentabilidade da Copersucar, afirmou: “O Brasil tem condição de ser player global em SAF e biometano, mas precisa acelerar a regulação e fechar contratos de longo prazo com transportadoras.” Já Carolina Kotscho, gerente da Cocal, defendeu a criação de zonas de exportação regulada via portos do Nordeste.

O painel indicou que hubs logísticos como Suape e Pecém podem abrigar operações de grande escala, desde que exista regulação federal e cooperação entre ministérios. A ausência de uma política industrial voltada para combustíveis alternativos foi apontada como gargalo central.

Etanol de milho encerra programação com foco em interiorização e atratividade regional

No último painel, “Um overview da produção de etanol de milho no Brasil”, a diretora da Unem, Regiane França, apresentou a evolução da cadeia do etanol de milho e afirmou: “O etanol de milho não é concorrente da cana; ele complementa a matriz. Hoje, 19% da produção nacional já vem do milho e há espaço real para expansão no Nordeste.”

O setor contabiliza R$ 15 bilhões em investimentos privados desde 2020, com destaque para projetos em implantação fora do Centro-Oeste. Participaram também Fernando Mendes, CEO da Ethanol Agroindustrial, Clóvis Ribeiro, diretor da Aref Bioenergia, e Danilo Barros, diretor da Caramuru, que destacaram o potencial de integração vertical e sinergia entre lavoura, usina e logística rodoviária.
O painel encerrou o evento com apelo pela criação de um ambiente regulatório e financeiro que viabilize a interiorização industrial da cadeia energética no semiárido.

Foto: Painel “Quo Vadis: Rumos do setor sucroenergético do Brasil” reuniu representantes da cadeia da cana-de-açúcar com foco na competitividade e expansão industrial. Crédito: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Fonte: Movimento Econômico

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