Representantes de entidades pernambucanas avaliam como positiva a abertura do diálogo entre Brasil e Estados Unidos e esperam medidas efetivas para aliviar a carga tarifária sobre os produtos brasileiros

FOLHA DE PERNAMBUCO – O encontro entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, deixou o setor produtivo pernambucano otimista com a abertura da negociação direta entre os países. No entanto, os representantes de entidades ouvidos pela Folha de Pernambuco ainda aguardam medidas efetivas que possam aliviar a carga tarifária de 50% imposta pela Casa Branca em agosto.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Pernambuco (FAEPE), Pio Guerra, afirma que o setor tem a expectativa de que a negociação “possa caminhar para uma solução mais, menos beligerante do que vinha tendo”. No entanto, ele alertou para a necessidade de um desfecho breve para a sobretaxa dos produtos do campo, em razão de serem perecíveis.
“Hoje a gente sabe que as coisas estão sendo colocadas na mesa de quem delibera. Até então não havia isso. Nossa fruta é perecível. Seja qual for o preço, teremos que vender. O industrial pode ficar com o produto estocado para vender daqui a seis meses. Nós não podemos. Ruim é não abrir a negociação. Que não se reduza, que não se chegue a canto nenhum, como está hoje”, ressaltou.
Avanço
Já o presidente-executivo da Novabio e do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, destacou como um avanço o fato de a agenda entre os países voltar a ser técnica, com o envolvimento do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD) e de ministros de estado nas negociações.
Cunha afirmou que os produtores esperam uma articulação que diferencie o açúcar e o etanol. Isso porque os Estados Unidos tentam reduzir a tarifa aplicada pelo Brasil sobre o etanol estadunidense, para possibilitar uma maior exportação do produto.
Já o açúcar exportado pelo Brasil aos Estados Unidos está incluído num programa de cotas ao lado de outros 39 países, tendo uma fatia de 150 mil toneladas exportadas, quando só o Nordeste responde por uma produção de 3,7 milhões.
“Não pode haver um tratamento diferente, já que, no Brasil, a matéria-prima produz etanol e açúcar. Não tem sentido a gente ter uma cota muito pequena de açúcar, ínfima, e abrir uma cota de etanol para os Estados Unidos. O país tem a necessidade de açúcar, porque o balanço deles é negativo, precisam importar, e o nosso balanço de etanol é positivo, nós somos exportadores. Não haveria nenhum sentido a gente importar sem ter espaço aqui, para concorrer com o nosso próprio álcool, o nosso próprio etanol, que seria uma contradição”, declarou Cunha.
O executivo defende ainda que, caso os assuntos sejam tratados juntos, que seja feita uma indexação entre açúcar e etanol. Isso significa que os Estados Unidos teriam que conceder volumes equivalentes para a exportação do açúcar brasileiro. “Então, vamos fazer uma regra de paridade, onde açúcar e etanol andem juntos”, salientou.
Tratativas
O setor industrial ainda contabiliza o impacto negativo da tarifa de 50% sobre produtos exportados pelo estado, de acordo com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Bruno Veloso. Para ele, a imposição da alta taxa do tributo é uma estratégia dos Estados Unidos para estabelecer na negociação uma nova tarifa, de forma que ambos os países se sintam beneficiados.
“Obviamente que a gente espera que diminua muito essa tarifa. Até porque é uma característica do presidente dos Estados Unidos colocar uma situação mais extremada, que é para poder atingir o número que ele deseja, e que, mesmo assim, a parte que está negociando com ele, se sinta satisfeita”, declarou Veloso.
A mesma espera é possível ser observada entre os lojistas, que cobram por medidas efetivas quanto à tarifa. O presidente da Câmara de Dirigentes e Lojistas, Fred Leal, chamou a atenção para a falta de sinalização do presidente Donald Trump no sentido de rever a tarifa de 50% imposta sobre produtos brasileiros.
“A aproximação é extremamente benéfica, agora, em termos práticos, não houve nada, então na realidade o comércio ainda espera que medidas efetivas sejam tomadas. Não se sabe nem se as coisas podem acontecer este ano ainda. O Trump não deu nenhum sinal”, avaliou o presidente da CDL.
Por Anthony Santana
Imagem: (Esq. p/ dir.) Renato Cunha, Bruno Veloso e Pio Guerra – Crédito: Folha de Pernambuco
Fonte: Folha de Pernambuco
 
								 
															 
															