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NovaBio alerta para perda de competitividade do etanol do Nordeste com possível reciprocidade dos EUA

Renato Cunha, presidente executivo da NovaBio – Foto: Léo Caldas

A intenção do governo dos Estados Unidos (EUA) de aplicar tarifas de reciprocidade sobre o etanol brasileiro ameaça a competitividade do setor sucroenergético do Nordeste. A avaliação é da Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio). 

Na avaliação do presidente executivo da NovaBio, Renato Cunha, a ação de Trump é uma forma de pressão ao governo brasileiro para revogação da tarifa de 18%, aplicada atualmente sobre as importações do biocombustível norte-americano. “O Brasil, superavitário na produção de etanol, não necessita do produto importado para abastecer o mercado doméstico. Acrescente-se, ainda, que exportamos 2,5 bilhões de litros anualmente. Com excedentes exportáveis, comprar etanol dos EUA a uma taxa recíproca seria desnecessário e oneroso para a balança comercial brasileira”, afirma o executivo. 

Segundo Cunha, a indústria canavieira nordestina seria uma das mais afetadas caso o Brasil aceitasse a isenção tarifária. A região, que gera mais de 250 mil empregos diretos e indiretos no setor, também se tornou o principal ponto de entrada do etanol norte-americano devido à proximidade logística. “Mesmo durante a safra canavieira do Nordeste, os EUA despejam no Brasil mais de 1,6 bilhão de litros de etanol de milho quando as tarifas são reduzidas”, destaca Renato, que também preside o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco. 

Ele ressalta ainda que, o biocombustível norte-americano, produzido a partir do milho, tem menor sustentabilidade em comparação ao produzido no Brasil, baseado na cana-de-açúcar. Sem tarifa, entrada de etanol dos EUA pelos portos do Norte e Nordeste pode crescer 14%, estima Datagro

Estimativa da consultoria Datagro indica que, caso não houvesse a tarifa de 18% sobre as importações norte-americanas, hoje a janela de entrada do etanol dos EUA pelos portos da região Norte e Nordeste do Brasil estaria aberta em 14%. Como base dos cálculos, a consultoria avaliou o desempenho dos negócios entre os dois países nos últimos anos. 

Segundo o relatório, desde 2021, quando a tarifa externa comum sobre a importação de etanol voltou a vigorar, o Brasil importou dos EUA em média 247 milhões de litros de etanol ao ano, contra uma média de 1,4 bilhão de litros nos quatro anos anteriores (2017 a 2020). 

Por outro lado, o Brasil exportou para os EUA 309 milhões de litros de etanol ao ano entre 2021 e 2024, contra uma média de 1,02 bilhão de litros ao ano entre os anos de 2017 e 2020. “À primeira vista, essas estatísticas apenas evidenciaram que o fluxo comercial de etanol entre os dois países não costumava diferir muito nos últimos anos”, destaca a Datagro no documento. 

No entanto, desde 2024, esse quadro começou a mudar. Os EUA expandiram a produção de etanol e, consequentemente, o excedente exportável, via preços bem mais competitivos no cenário internacional. O movimento foi fruto da baixa dos preços do gás natural e do milho. Enquanto isso, no Brasil, o setor sucroenergético ainda convive com os custos elevados por trás da produção de etanol de cana, que responde atualmente por 78% da oferta total de etanol no país (e o etanol de milho, por 22%), além de aumentar o mix para a produção de açúcar. 

No ano passado, o Brasil reduziu em 25,0% as exportações de etanol para 1,88 bilhão de litros, dos quais 16,4%, ou 310 milhões de litros, para os EUA. 

Por sua vez, as exportações norte-americanas de etanol bateram um recorde de 7,4 bilhões de litros em 2024 — aumento de 34,8% sobre 2023. Desse total, apenas 1,4%, ou 105 milhões de litros, tiveram como destino final o Brasil. 

Diante deste contexto, a Datagro ressalta que, se o Brasil ceder à pressão de Trump, o mercado, sobretudo o nordestino, seria inundado pelo etanol norte-americano. “Isso pressionaria para baixo os preços do etanol ao produtor em todo o país, uma vez que também afetariam as transferências de etanol da região Centro-sul para o Norte e Nordeste, cujo volume médio gira em torno de 1 bilhão de litros ao ano”, afirma.

Fonte: Estadão

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