
FOLHA DE PERNAMBUCO – A Casa da Indústria, sede da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE), no Recife, foi palco de uma discussão estratégica sobre os rumos da economia global.
O evento Fiepe Internacional, que aconteceu na noite desta quinta-feira (10), foi promovido pelo Conselho Temático de Comércio Exterior da entidade e recebeu o diplomata, cientista político, economista e ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB/Brics), Marcos Troyjo.
Ele conduziu a palestra “O cenário econômico global: desafios e oportunidades para a indústria”, com moderação de Renato Cunha, vice-presidente da FIEPE, presidente do Sindaçúcar-PE e presidente-executivo da Novabio.
Durante a abertura, o presidente da FIEPE, Bruno Veloso, destacou a importância do encontro como uma iniciativa fundamental para acompanhar a dinâmica internacional.
“Vivemos tempos em que compreender as dinâmicas globais passou a ser uma exigência. O cenário internacional está em constante transformação: pressões geopolíticas, disputas comerciais, avanços tecnológicos, mudanças climáticas, novas políticas tarifárias. A bola está alta, mas as oportunidades também são”, disse.
Veloso mencionou ainda a recente decisão do presidente americano Donald Trump de impor tarifas sobre diversos produtos importados como um exemplo claro de como decisões externas redesenham o tabuleiro comercial global. Para ele, essa medida, apesar de protecionista, pode abrir uma janela de oportunidades para o Brasil — especialmente para os exportadores de Pernambuco — se houver preparo adequado.
“Precisamos investir em tecnologia, formar talentos e ampliar a nossa capacidade comercial. Só com inovação e conhecimento vamos agregar valor aos nossos produtos, diversificar nossa pauta exportadora e conquistar o mercado de forma sustentável”, afirmou.
Convidado da noite, Marcos Troyjo contextualizou o cenário mundial, ressaltando que há um redesenho dos parques industriais no mundo, que nas últimas três décadas ficaram altamente concentrados no Sudeste Asiático, especialmente na China. No entanto, as recentes tensões comerciais e o aumento do custo da mão de obra no país asiático estão provocando uma reconfiguração desse mapa.
“Vamos testemunhar, nos próximos anos, uma redefinição de onde vão se posicionar esses novos núcleos industriais. Isso é uma grande notícia para o Brasil, que busca sua reindustrialização, e também para o Nordeste, que tem potencial energético limpo e pode atrair capitais para projetos de infraestrutura de longo prazo”, analisou. Troyjo também apontou que a guerra comercial promovida pelos Estados Unidos, com imposição de tarifas a diversos países, vem causando incertezas nos fluxos de investimentos internacionais.
“Quando há uma incerteza nesse nível, nas finanças internacionais, os investidores ficam de freio de mão puxado”, afirmou, pontuando que temas como aumento populacional, oscilação demográfica, expectativa de vida, novas fontes de crescimento e revoluções tecnológicas como a inteligência artificial também devem estar no radar da indústria.
O moderador do evento, Renato Cunha, ressaltou a relevância da presença de Troyjo como alguém que “entende da geopolítica mundial e atua observando, sugerindo e participando do mercado internacional”. Ele reforçou que o momento é de atenção estratégica.
“O chamado ‘tarifaço’ feito pelos Estados Unidos vai ensejar uma nova ordem internacional e isso certamente vai mexer com o relacionamento comercial entre fornecedores e compradores. O Brasil tem que se preparar”, alertou. Cunha também pontuou que o país tem vantagens relevantes nesse novo tabuleiro internacional.
Temos uma indústria que está se preparando para abraçar esse mercado, criando plataformas de excelência em vários setores. Exportamos para China, Estados Unidos, Argentina, Holanda, entre outros, e temos tradição e aptidão para crescer ainda mais”.
Por Vitória Floro
Foto: Evento destaca importância de debater o cenário econômico global – Crédito: Paullo Allmeida / Folha de Pernambuco
Fonte: Folha de Pernambuco