
A produção de cana-de-açúcar no Nordeste deve registrar retração na safra 2024/2025, segundo levantamento divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A previsão é de 54,4 milhões de toneladas colhidas na região, uma queda de 3,7% em relação ao ciclo anterior. Apesar da redução no volume, o Nordeste avança na mecanização da colheita e consolida o modelo de cooperativismo, especialmente em estados como Pernambuco e Bahia.
O Nordeste enfrenta desafios estruturais que limitam o crescimento da produtividade, principalmente em razão das condições climáticas e da geografia acidentada de boa parte das áreas cultivadas. Ainda assim, a mecanização da colheita tem crescido de forma consistente.
Em Pernambuco, o relevo da Zona da Mata, com declividades que variam de 8% a 45%, continua sendo um entrave à expansão das máquinas. Atualmente, 93,7% da colheita no estado ainda é manual, mas 6,3% das áreas já são mecanizadas. Três novas unidades de produção incorporaram o uso de colhedoras nesta safra, elevando para sete o número de usinas que adotam a tecnologia.
Outro destaque de Pernambuco é a expansão do cooperativismo. Nesta safra, quatro unidades agroindustriais atuaram no modelo de cooperativa, reativando usinas anteriormente desativadas. Essas unidades dependem integralmente da matéria-prima fornecida por produtores parceiros, com 49% da cana processada vinda de fornecedores e 51% de áreas próprias.
Na Bahia, o percentual de colheita mecanizada também avança, impulsionado pela modernização das unidades produtivas. A adoção de tecnologia no campo tem reduzido custos, aumentado a eficiência operacional e gerado receita adicional com a comercialização de créditos de carbono.
Em Alagoas, além da tradicional produção de cana-de-açúcar, ganha força o etanol de milho, que amplia a diversificação da matriz energética estadual. Outros estados nordestinos, como Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe, Maranhão, Ceará e Piauí, apresentam produção menor e voltada para atender demandas regionais. A Paraíba mantém estabilidade em área cultivada, mas sofre impactos de produtividade pelas chuvas irregulares; o Rio Grande do Norte enfrenta retração no volume colhido, enquanto Sergipe trabalha na reestruturação de sua cadeia produtiva.
De acordo com o presidente da Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (Novabio) e do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, o que já está mecanizado no Nordeste é o enchimento dos caminhões.
Ele destacou que a mecanização do corte da cana está em fase de estudo e desenvolvimento estratégico, envolvendo investimentos, pesquisas e tecnologias em avaliação. Pelo menos cinco usinas da região estão conduzindo experimentos para viabilizar o corte mecanizado, mas preferem manter discrição sobre os processos, dada a importância estratégica das inovações para a competitividade do setor.
Mecanização da colheita de cana é tendência irreversível
No âmbito nacional, a mecanização da colheita da cana se consolidou como tendência irreversível. Segundo a Conab, 92,4% da colheita foi realizada de forma mecanizada na safra 2024/2025, mantendo o mesmo patamar da temporada anterior. Em menos de 20 anos, o número de colhedoras em operação no país saltou de 1.221, na safra 2007/08, para 4.965 unidades na atual safra. Além da maior quantidade de máquinas, os equipamentos se tornaram mais eficientes, acelerando a modernização do setor.
A região Centro-Sul, que concentra a maior parte da produção brasileira, alcançou 98,6% de mecanização na colheita. Em São Paulo, principal estado produtor, o índice passou de 62,7% na safra 2010/11 para mais de 98% nesta temporada.
A redução do volume de cana-de-açúcar colhida impactou a produção nacional de açúcar, estimada em 44,1 milhões de toneladas, uma queda de 3,4% em relação à safra anterior. Ainda assim, o resultado representa a segunda maior produção histórica registrada pela Conab. No etanol, houve crescimento de 4,4% na produção total, alcançando 37,2 bilhões de litros, puxado principalmente pela expansão do etanol de milho, que chegou a 7,84 bilhões de litros, alta de 32,4% em comparação ao ciclo anterior.
As exportações de açúcar mantiveram o volume de 35,1 milhões de toneladas, embora a receita tenha caído 8,2%, totalizando US$ 16,7 bilhões devido à queda dos preços internacionais. Já as exportações de etanol encerraram a safra em 1,75 bilhão de litros, redução de 31% em relação ao ciclo anterior.
Apesar das adversidades climáticas e dos obstáculos geográficos, o Nordeste segue avançando em modernização e inovação na sua produção sucroalcooleira, consolidando sua importância no cenário nacional.
Fonte: Movimento Econômico