NOVABIO

O etanol na transição energética para o hidrogênio verde


Por Renato Augusto Pontes Cunha
Presidente da NovaBio e Sindaçucar-PE

O hidrogênio verde é mundialmente classificado como o futuro das energias renováveis. Conhecido como H2V, apresenta vantagens ambientais incomparáveis por emitir zero em gás carbônico ao ser produzido e consumido. O diferencial está no fato de que o processo químico utilizado para a obtenção da eletricidade, a hidrólise, pode ser de base renovável e ofertada por usinas hidroelétricas, solares, eólicas e, de forma substancial e pouco reconhecida, pela indústria sucroenergética. 

Aproveitar as potencialidades do etanol de cana-de-açúcar nesta transição energética em pleno curso constitui uma das estratégias mais eficazes para o Brasil alcançar o protagonismo no mercado de H2V. Nesse sentido, em fevereiro deste ano, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) divulgou relevante documento, destacando o hidrogênio verde como um dos temas prioritários para o nosso desenvolvimento sustentável. 

Na primeira quinzena de junho, o Nordeste brasileiro, abundante em sol, ventos e cana, entendeu o recado e deu importante passo rumo à era do baixo carbono com o H2V. Em iniciativa inédita, o Governo do Estado de Pernambuco, por meio do Complexo Industrial Portuário de Suape, e a empresa Neoenergia, firmaram Memorando de Entendimento para a expansão da indústria regional de H2V. A iniciativa fundamenta-se na descarbonização da matriz energética e deverá impulsionar projetos voltados às energias renováveis, como o Programa Carbono Neutro de Fernando de Noronha, Patrimônio Natural da Humanidade. 

Nas oportunas palavras do secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Geraldo Julio, após a assinatura do acordo, a construção da bieconomia exige medidas e tecnologias que consolidem nossa posição como agentes do futuro.  

Já há algum tempo usado como fonte de energia elétrica para a descarbonização no setor industrial, o H2V vem chamando a atenção do segmento automotivo nos últimos anos. Diante da tendência de eletrificação dos veículos, surge a preocupação em relação à sustentabilidade do combustível que alimentará as baterias. É preciso contabilizar todas as emissões associadas ao ciclo de vida do produto, e não apenas o que é emitido pelo escapamento.   

Diversas montadoras de automóveis, atentas à questão, vêm desenvolvendo novas tecnologias e estudos buscando equacionar o problema. A inovação mais promissora é um sistema de célula de combustível de Óxido Sólido (SOFC, em inglês), que extrai hidrogênio de um combustível líquido para gerar eletricidade em veículos 100% eletrificados. 

Montadoras como as gigantes Nissan e Volkswagen, por exemplo, têm mostrado interesse por essa solução e percebido o diferencial estratégico em relação ao uso desta tecnologia no Brasil. Com o SOFC pode-se obter H2V diretamente do etanol, combustível sustentável, disponível em mais de 42 mil postos de abastecimento no País. É uma alternativa que supera o gargalo que limita a expansão dos automóveis de última geração equipados com célula de combustível: o alto custo e a falta de uma rede de postos de recarga de hidrogênio.  

Com as oportunidades abertas pelo H2V, inverte-se a lógica fácil de que é preciso encerrar o ciclo vigente antes de começar um novo. O senso de urgência da bioeconomia sugere que tenhamos de começar a escrever o novo capítulo antes mesmo de terminar o capítulo anterior.

Artigo originalmente publicado no Jornal Folha de Pernambuco.

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