Por Eliane Silva
Na próxima safra, a usina pernambucana Petribu, a maior do Estado e a mais antiga do Brasil, deve testar uma colhedora para terrenos acidentados que vem desenvolvendo há um ano em parceria com uma empresa chinesa para tentar solucionar a falta de mão de obra para o corte da cana.
“Fazemos reuniões semanais online para o trabalho de desenvolvimento da colhedora. No mês passado, nosso diretor comercial e o engenheiro de mecanização estiveram na China para inspecionar o protótipo. A máquina já consegue andar em terreno acidentado, tem ainda adaptações a fazer, mas acho que finalmente estamos no caminho certo”, diz a presidente da usina, Daniela Petribu Oriá, à reportagem da Globo Rural durante um evento do setor sucroalcooleiro em Ribeirão Preto (SP).
Representante da oitava geração da família e primeira mulher a assumir o cargo de presidente, Daniela afirma que seu tio, Jorge Petribu, a quem sucedeu no comando, já viajou o mundo todo atrás de uma máquina que pudesse colher cana nas áreas da Petribu, que tem muita declividade e terrenos acidentados.
“Ele trouxe algumas máquinas para teste, mas nenhuma deu produtividade. Tentamos desenvolver uma alternativa com pedaços de várias máquinas, mas também não funcionou”, conta Daniela.
Diferentemente das lavouras do Centro Sul, que têm cerca de 95% da colheita mecanizada por estar em terrenos planos, no Nordeste o corte tem que ser feito manualmente. Na Petribu, só 20% dos cerca de 22 mil hectares permitem a colheita mecanizada.
A usina localizada no município de Lagoa de Itaenga tem 6.000 funcionários, a maioria trabalhando no campo. Nas últimas três safras bateu recorde de produção de cana, mas, segundo Daniela, poderia ter produzido ainda mais se não tivesse a limitação da falta de mão de obra.
Na última safra, que vai de agosto a abril, foram moídas 1,8 milhão de toneladas de cana, sendo 65% próprias, para uma produção de quase 3 milhões de sacas de açúcar. “Foi o maior volume colhido, mas não foi o melhor rendimento (o recorde de produção de açúcar é de 2020) porque choveu muito no final da safra”, afirma Daniela.
A produção de açúcar de vários tipos para exportação e mercado interno é o carro-chefe, mas a Petribu também produz etanol, energia e CO2. Desde 2018, passou a fabricar também álcool sanitizante, usado na limpeza geral e em hospitais, aproveitando as sobras do processamento de açúcar.
A maioria dos funcionários são homens que trabalham no plantio, tratos culturais e colheita. Na administração, há mais mulheres, e no laboratório elas representam 100%. Daniela disse que quer aumentar o número de mulheres, incentivando a contratação delas, desde que tenham a capacitação adequada.
A Petribu mantém na fazenda uma escola modelo com 150 vagas para filhos de funcionários, do maternal ao 7º ano, com alimentação, assistência médica e odontológica, uniforme, aulas de informática e de práticas agrícolas. Já passaram pela escola cerca de 18 mil alunos. Alguns gerentes atuais da usina são ex-alunos.
Desde 1729
A usina Petribu começou com um engenho familiar em 1729, quando o pioneiro Cristóvão Cavalcanti de Albuquerque se mudou da região de Igarassu, onde sua família já produzia açúcar, para a região da Zona da Mata de Pernambuco. Ali, em uma região chamada “Potyraybu” (que significa nascente de águas claras em tupi guarani), construiu um pequeno engenho de madeira movido por tração animal para produzir açúcar.
Com o passar dos anos, o engenho ganhou o nome do local, que foi simplificado para Petribu. Em setembro de 1909, o coronel João Cavalcanti de Albuquerque, sétimo descendente de Cristóvão, transformou o engenho em uma usina movida a vapor, importando máquinas da Europa. Dois anos depois, o coronel resolveu adotar Petribu como sobrenome com registro oficial em cartório.
Em 2007, a Petribu vendeu para os chineses do Noble Group a unidade que tinha em Sebastianópolis do Sul, em São Paulo, para se concentrar na produção em Pernambuco.
Fonte: Globo Rural