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Setor Agroenergético Nordestino –Sustentabilidade e Oportunidades

Pedro Robério

Por Pedro Robério de Melo Nogueira*

A produção de cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil é uma atividade econômica de grande relevância na sua dimensão econômico-social representada na expressiva empregabilidade e na circulação de renda nos municípios onde é desenvolvida.

Esse contexto sintetiza na constituição do Polo Agroenergético da Cana-de-Açúcar do Nordeste e o consagra como um dos maiores empregadores e geradores de renda regional, fator, inclusive, de equilíbrio social por essa expressiva absorção de mão de obra exatamente no interior evitando migração populacional para as capitais.

A evolução e o desenvolvimento dessa atividade desde o Descobrimento demonstraram grande vocação econômica e extremada resiliência dos empresários e produtores regionais no seu mister, haja vista, que nesse longo período de atividade observou-se alternância frequente de momentos críticos e desejáveis para a sua adequada evolução produtiva.

Atualmente esse Polo é constituído por 50 unidades industriais, 22.000 produtores independentes de canas abrigando cerca de 280 mil empregos diretos e 1.12 milhão indiretos, efetivando uma produção de 52 milhões de toneladas de canas, 9% da produção nacional, ainda que ocupando 30% da mão de obra nacional desse segmento.

Por essa razão, sua dimensão ambiental, social e de governança (ESG) tornou-se um tópico central na medida em que a crescente conscientização sobre as mudanças climáticas, a justiça social e a governança responsável têm impulsionado a integração das dimensões ESG em setores-chave da economia, incluindo a produção de canade-açúcar no Nordeste. A busca por uma abordagem mais sustentável é fundamental para equilibrar os interesses econômicos e a preservação do meio ambiente e das comunidades locais, potencializando as oportunidades de inserção desse Polo no contexto da descarbonizarão e da sustentabilidade em todas as suas dimensões.

Dimensão ambiental

A produção de cana-de-açúcar enfrenta desafios ambientais, como o uso de recursos hídricos, o uso de agroquímicos e a conversão de áreas naturais. No entanto, práticas sustentáveis, como a agricultura de precisão, o manejo integrado de pragas, a recuperação de áreas degradadas, a manutenção de Reservas Naturais, a manutenção de matas ciliares e o próprio reflorestamento da mata atlântica, têm sido adotadas para mitigar eventuais impactos negativos. Além disso, a produção de biocombustíveis a partir da cana-de-açúcar contribui para a redução das emissões de carbono, alinhando-se aos objetivos de combate às mudanças climáticas somado com a produção de energia a partir da biomassa da cana-de-açúcar e, agora, com a produção de biogás e biometano com o aproveitamento da vinhaça e de
outros resíduos industriais.

Dimensão social

A dimensão social da produção de canade-açúcar no Nordeste envolve questões como o trabalho rural, os direitos dos trabalhadores e a interação com as comunidades locais. Práticas sustentáveis incluem o respeito aos direitos trabalhistas, a promoção da inclusão e diversidade no ambiente de trabalho e a realização de ações que beneficiem as comunidades vizinhas, como investimentos em infraestrutura e educação.

A expressiva utilização de mão de obra remete à observância das melhores práticas de trabalho através do permanente esforço no trabalho com relações contratuais legais e o contínuo esforço no desenvolvimento, educação e treinamento dos colaboradores na execução de suas tarefas laborais.

Dimensão de governança:

A governança adequada é essencial para garantir que as práticas sustentáveis sejam implementadas e monitoradas. Isso envolve a transparência nas operações, a conformidade com regulamentações ambientais e trabalhistas, além do envolvimento das partes interessadas, incluindo acionistas, comunidades locais e organizações não governamentais.

A evolução na gestão gerencial, quer seja no ambiente familiar acionário ou nos cargos de direção tem se tornado num visível processo evolutivo, na medida em que, cada vez mais se prepara e qualifica gestores.

Desafios e oportunidades

A produção de cana-de-açúcar realizada pelo seu Polo Agroenergético no Nordeste vem enfrentando com êxito os desafios na implementação plena das melhores práticas de ESG, com a realização de investimentos em tecnologia, treinamento de trabalhadores e monitoramento contínuo. Além disso, é preciso equilibrar a produção com a preservação dos ecossistemas naturais. No entanto, essa busca por sustentabilidade também traz oportunidades, como acesso a mercados mais exigentes em termos de ESG e fortalecimento da reputação das empresas.

Por outro lado, a intensificação da economia circular com a autossuficiência de energia nas unidades produtores e a oferta adicional de energia excedente da biomassa e na oportunidade de produção de biogás a partir da vinhaça e das leveduras residuais do processo industrial vem permitindo o desabrochar de novas oportunidades de investimentos e do fornecimento de novos produtos plenamente sustentáveis e de melhor valor agregado.

Portanto, a dimensão ESG na produção de cana-de-açúcar no Nordeste reflete uma mudança de paradigma em direção a práticas mais sustentáveis e responsáveis. A integração efetiva das dimensões ambiental, social e de governança não apenas contribui para a sustentabilidade do setor, mas também para a proteção do meio ambiente e a promoção do bem-estar das comunidades locais. É fundamental que produtores, governos e outras partes interessadas colaborem para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que essa abordagem ESG oferece.

*Presidente do Conselho Deliberativo da NovaBio e do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Alagoas (Sindaçucar/AL) .

Artigo originalmente publicado no jornal Folha de Pernambuco

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